Um outro aspecto da vida que divide a humanidade diz respeito às
religiões, ao humanismo e ao racionalismo. O cristianismo, por exemplo,
professa que Deus é essencialmente amor e quer ser acolhido por adesão livre.
Ele, como as outras religiões, liberta o homem do mal, purifica e eleva a
alma, trazendo uma realização plena. As religiões pregam o amor, o diálogo, a
paz, a misericórdia, atributos que levam à libertação. Se assim não for, não é
religião, não está pregando o sentido de religiosidade.
Há os que dizem que o humanismo cristão seria o responsável pela
desertificação do universo, aquilo que Max Weber chama “o desencantamento do
mundo”. São convictos de que o cristianismo despovoou a natureza dos deuses e
das entidades mitológicas, concentrando toda a sacralidade na figura do homem.
Assim, para eles, o mundo transformou-se em coisa inanimada, uma representação
sem interioridade, “casca vazia autopsiada pela ciência e abertamente
manipulada pela tecnologia. O sol visível do mundo foi ofuscado pelo sol
invisível do espírito” (Vicente Ferreira da Silva).
Estamos vivendo uma época de febre racionalista. Os defensores de uma
cultura agnóstica acreditam que a humanidade seria mais civilizada e feliz se
se libertasse das “amarras” espirituais. Acreditam que a religião, sutilmente,
empurra o homem a um sentimento místico, desfavorável à sua libertação total.
Para as coisas da alma não há muito que explicar. Lembro, aqui, Santa
Bernadete, a dos milagres de Lourdes, na França, que, apertada por
inquisidores, disse: “Não adianta explicar para os que crêem, não é necessário;
para os que não crêem, não adianta”.
Transportando essa conclusão para o magistério, percebemos como nele o
conceito é real. Se o magistério não acreditar, não vai realizar. São Tomé
dizia, em relação à calúnia, é preciso ver para crer. Em relação ao magistério,
o processo é o inverso: é preciso crer para ver. Na montagem do currículo, a
escola tem necessidade de definir sua concepção filosófica, religiosa.
Discutir, ao lado do aspecto intelectual do ensino, a questão moral, ética do
comportamento humano. A desordem mundial, o agravamento dos problemas sociais,
mostram-nos o quanto a educação moral dos jovens vem falhando. São lançadas na
torrente da população levas de jovens sem princípios, sem fé, sem religião, sem
sustentação de alma e com conseqüências desastrosas.
A função primeira da escola é o conhecimento, mas, também, formar o
cidadão. Ela deve se definir em termos do ser humano que quer formar, da visão
de mundo que quer projetar. Deve discutir sua concepção de educação e através
dessa concepção criar seus critérios de avaliação e formular toda sua linha
pedagógica.
A discussão do humanismo e do racionalismo é importante, porque as duas
correntes marcam a humanidade. O ardor racionalista encontra-se subentendido
nos textos comemorativos do cinqüentenário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Neles, nota-se a apologia da razão, do sonho da libertação pela razão,
contrapondo-se à corrente espiritualista que preconiza o sonho da
libertação pela religião. Goya, em uma
célebre pintura, cunhou a frase: “Deus e o sonho da liberdade” e o grande
escritor Dostoiewski, através de um personagem, diz: “Se Deus não existe,
então, tudo é permitido”.
Estes são exemplos que devem perpassar as diretrizes do currículo, a fim
de se conseguir uma atitude uniforme de seus membros. Deve-se ir além, às suas
linhas norteadoras acrescentar, como queria o nosso Paulo Freire: “a
necessidade de se formar homens e mulheres capazes de sonhar, idealistas,
práticos, capazes de transformar seus sonhos em realidade.
Precisamos conscientizar os jovens da importância
do investimento em si próprio, em sua cidadania. Conscientizá-los a fazer
frente à realidade, colocá-los por dentro dos problemas que os envolvem na
atualidade e subsidiá-los para atuar preventivamente”.
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